A não ser que você tenha sido colega de quarto do Patrick Estrela nos últimos anos, provavelmente já ouviu falar de The Last of Us. Mas como aqui a gente acolhe até quem mora debaixo de pedra, vamos começar do começo: The Last of Us é um jogo lançado em 2013 pela Naughty Dog — o mesmo estúdio responsável por clássicos como Crash Bandicoot e Uncharted.
A história do jogo é dividida em duas partes: a primeira chegou em 2013 e a sequência só veio em 2020, para garantir que a gente tivesse tempo de se recuperar do trauma antes de sofrer de novo, mas que infelizmente ainda é pauta nas minhas sessões de terapia.
A série produzida pela HBO (2023), é uma adaptação relativamente fiel – emocionalmente devastadora da mesma forma, da história que milhões de pessoas já jogaram, zeraram, choraram e nunca superaram.
Como a narrativa da série segue de perto o roteiro dos jogos, vou dar um panorama geral do que rolou na primeira temporada — e tentar evitar os (inevitáveis) spoilers da segunda.
A história se passa em um futuro nada utópico, onde a civilização entrou em colapso após uma infestação causada por um fungo real — o cordyceps — que transforma humanos em criaturas violentas e grotescas. No meio desse colapso e de uma sociedade que tenta existir e resistir, conhecemos Joel, um homem traumatizado (e bonito) que está apenas sobrevivendo no piloto automático. Ele é incumbido de escoltar Ellie, uma adolescente imune à infecção, através de um Estados Unidos em ruínas.
Sim, nada mais gostoso do que assistir uma série sobre isso logo após passarmos por uma das maiores tragédias sanitárias dos últimos anos, timing impecável, parabéns aos envolvidos. Depois do pânico geral, graças ao TikTok, foi despertado um fascínio geral, mesmo com as pessoas normais (não gamers), assim a série foi considerada um dos maiores acertos do ano de 2023, ganhando oito Emmys naquele ano e o prêmio de melhor Adaptação no The Games Award.
A força de The Last of Us reside não apenas em seus personagens — profundos, falhos e extremamente humanos, nessa jornada do herói apocalíptica, mas também em sua ambientação nostalgicamente similar a do jogo. A direção de arte, design de som não ganharam prêmios à toa, cada detalhe foi pensado não somente para agradar os que já tinham uma ligação com o jogo, mas quem estava acompanhando a jornada pela primeira vez.
Obviamente, muito do hype se deu às atuações absurdas dos protagonistas: Pedro Pascal, o maior zaddy da atualidade (me recuso a discutir), e Bella Ramsey, que mesmo sendo alvo de hate injustificado online, entregou uma Ellie afiada, intensa e cheia de nuances. A química desses dois mantêm um nível de magnetismo que nos prende na tela, seja do jogo ou da série.
Agora vamos para a ordem dos fatos, na primeira temporada acompanhamos o primeiro contato do Joel com a Ellie e o crescimento desse vínculo improvável, mas necessário – a relação de pai e filha, construída com o mesmo impacto emocional de uma sessão combinada de um filme triste com cachorro e um episódio do Linha Direta (referência especial para a galera dos anos 80).
O que no início parece “só mais uma série de zumbi com protagonistas carismáticos”, se torna muito mais que isso. A trama nos entrega tudo: como a dor de um luto, conflito geracional, medo do futuro, culpa e a eterna tensão entre sobreviver e viver. O que no caso da Ellie seria viver uma adolescência normal – algo meio difícil, falando de maneira leviana, para quem sabe que pode ser a única esperança de salvação de uma sociedade em ruínas.
Vamos dar uma geral nos 9 episódios da primeira temporada com os momentos mais importantes – e minhas partes favoritas – que você provavelmente não esqueceu, mas eu estou aqui para te lembrar de qualquer forma.
- A origem da pandemia do cordyceps.
Na série, o início da pandemia é apresentado de forma mais detalhada do que no jogo. O surto começa na Indonésia, especificamente em uma fábrica de produtos alimentícios. Embora isso não seja dito de forma explícita, a narrativa deixa pistas ao longo do primeiro episódio — como Sarah (Nico Parker) recusando os waffles no café da manhã e Joel (Pedro Pascal) esquecendo de comprar o bolo de aniversário. Esses detalhes sugerem que o fungo se espalhou por meio de um ingrediente comum e amplamente consumido: a farinha.
- Tess
A parceira de Joel, Tess (Anna Torv), apesar da participação breve nos primeiros episódios, é uma peça pivotante para o desenrolar da trama. Ela está presente nas primeiras interações entre Joel e Ellie e é uma das poucas que ainda alimenta alguma esperança de cura — mesmo não sabendo que talvez não viveria para ver esse futuro. Durante a jornada, Tess é mordida por um Clicker (Estalador) e decide se sacrificar em uma cena tão desconfortável quanto marcante, garantindo que Joel e Ellie consigam escapar do Capitólio e sigam sua missão. Sua saída precoce deixa claro que, naquele mundo, ninguém está a salvo — e que as decisões difíceis começam cedo.
- Bill e Frank
Que episódio foi esse? Enquanto muitos deram play no terceiro episódio esperando tiro, porrada e bomba, tomamos uma invertida bem lá no âmago do nosso coração. A série resolveu sair da curva e entregou um capítulo que, apesar de não existir no jogo, trouxe uma camada extra de profundidade e sensibilidade ao universo pós-apocalíptico. Foi nesse episódio que conhecemos a história de Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett), um casal que sobreviveu ao surto de forma isolada, criando uma vida possível — mesmo em meio ao caos.
4. O nascimento da Ellie
Ashley Johnson, que deu voz à Ellie na franquia original dos jogos, faz uma participação especial e simbólica na série. Ela interpreta a mãe da personagem em um flashback comovente, que mostra o nascimento de Ellie e sugere como sua imunidade à infecção pode ter se desenvolvido. É uma homenagem bacana e significativa para quem é fã dos jogos e acompanhou o seu desenvolvimento.
5. Sam
Outra diferença importante em relação ao jogo — e que trouxe um diferencial poderoso para a série — foi a dinâmica entre os irmãos Sam (Keivonn Woodard) e Henry (Lamar Johnson). Na adaptação, Sam é retratado como surdo e se comunica com Henry por meio da linguagem de sinais, o que adiciona uma camada extra de vulnerabilidade e profundidade à relação entre eles. Esse detalhe, sutil mas significativo, transforma a história dos dois em algo ainda mais tocante e angustiante. A conexão entre os irmãos é carregada de afeto, mas também de desespero silencioso, o que torna o desfecho da trama ainda mais difícil de engolir — mesmo pra quem já conhecia o destino deles no jogo. Uma parte importante no desenvolvimento da Ellie, como personagem, e sua maior aceitação em ser ‘uma cura’.
6. Jackson
Outra mudança significativa — provavelmente pensada pra dar mais ritmo à trama — foi a ambientação da comunidade de Jackson. No jogo, o lugar era bem mais simples e improvisado, uma construção ainda em progresso. Já na série, somos apresentados a uma cidade praticamente funcional, com casas, lojas, celeiro… um verdadeiro paraíso (dentro do possível) no meio do caos.
Sabemos que um dos objetivos do Joel é reencontrar seu irmão Tommy (Gabriel Luna), e depois de muitos perrengues eles finalmente se cruzam em Jackson — agora apresentada como uma comunidade bem estruturada e liderada pelo próprio Tommy. Esse reencontro, aliás, serve de respiro emocional pra série e é um dos episódios mais carregados em termos de conflito interno pro Joel.
7. O hospital e a decisão.
Chegamos a cena mais dramática (e estranhamente sexy) do hospital, Ellie está inconsciente, prestes a ser submetida a uma cirurgia que pode resultar na criação de uma cura para a infecção — mas com um pequeno (gritante) detalhe: ela não sobreviveria ao procedimento. E é nessa hora que temos uma cena de ação digna de um John Wick latino emocionalmente instável, o Joel resolve meter o louco, uma arma e um sonho para salvar a ‘filha’ (fala você para o Joel, que a Ellie não é a filha dele).
A decisão*, claro, gerou (e ainda gera) discussões acaloradas entre fãs. Foi egoísta? Foi paternal? Foi errado? Foi humano? Provavelmente tudo isso ao mesmo tempo. E é justamente essa zona cinzenta que faz de The Last of Us uma história fascinante. A gente entende o Joel. E talvez até fizesse o mesmo.
Ou não. Mas que ele fez e fez bonito, isso ninguém pode negar.
*Spoiler: ainda estamos debatendo isso.
O que esperamos para a segunda temporada?
Se você chegou até aqui sem precisar de um lenço ou de terapia, parabéns, você é emocionalmente mais estável do que eu. Mas se, como a maioria, você terminou a primeira temporada devastado e com aquela pontinha de culpa por ter passado pano para o Joel, pode se preparar: a segunda temporada não vem para aliviar, muito pelo contrário.
A adaptação deve seguir os eventos de The Last of Us Part II — o jogo mais amado e odiado da década (às vezes pelas mesmas pessoas, no mesmo dia). A trama ganha um ar muito mais sombrio e adulto, enquanto a gente segue as repercussões da decisão – sim, aquela decisão – tomada por Joel no final do primeiro jogo e a mentira que ele conta para Ellie sobre o que realmente aconteceu.
Além disso, veremos o crescimento da Ellie, que agora carrega muito mais do que a imunidade no corpo. Ela carrega o peso da mentira, do luto e de decisões que ela nem sabia que estavam sendo tomadas por ela. A relação dela com Joel vai se complicar, amadurecer (ou desmoronar), e nós vamos sofrer assistindo cada passo.
A HBO já mostrou que sabe entregar dor com qualidade, então podemos esperar mais episódios devastadores (sim, nós dois pensamos na mesma cena), e uma adaptação digna de prêmios.
Então, que venha o sofrimento. A gente assiste mesmo assim.
A segunda temporada estreia no dia 13 de abril, na plataforma de streaming, MAX.
Respostas de 7
Eu estou absurdamente ansiosa pela segunda temporada e mais ainda (só penso nisso), um episódio dedicado ao presente de aniversário que Joel deu para a Ellie (não darei spoiler…)…Eu sou apaixonada e ler tudo isso me levou de volta para todo aquele sentimento.
Que venha a Season 2
Estamos, minha psicológa tem que comprar um novo civic p ela e acho que depois dessa segunda temporada, ela vai conseguir kkkkkkk
Eu estou absurdamente ansiosa pela segunda temporada e mais ainda (só penso nisso), um episódio dedicado ao presente de aniversário que Joel deu para a Ellie (não darei spoiler…)…Eu sou apaixonada e ler tudo isso me levou de volta para todo aquele sentimento.
Que venha a Season 2
Eu amei tanto o jogo quanto a série e espero que a segunda temporada supere as expectativas
Estamos nessa vibe mesmo!
Eu assisti a primeira temporada mas ainda prefiro o jogo em si. É legal no entanto que ele achou mais pessoas e tem seu público na série. Ótimo texto.
O jogo é impecável mesmo, sem comparação!