Pablo e Luisão: um retrato afetuoso da amizade e da família

É difícil falar de Pablo e Luisão, nova série da Globoplay criada pelo meu amigo Paulo Vieira, sem deixar a emoção escapar pelos dedos. A produção tem sido elogiada por sua leveza, originalidade e pelo fato de trazer o Brasil real para o centro da cena, e tudo isso é verdade. Mas, para mim, essa série é ainda mais. É memória afetiva, é saudade, é reencontro.

Cresci em Palmas. Senti de perto aquele sol que arde, o sotaque, que é uma mistura de vários estados e culturas, os vizinhos de porta em porta, as histórias contadas no quintal de terra batida. E assistir Pablo e Luisão foi como rever uma versão mais leve da minha própria infância e adolescência. As referências (e peguei/vivi a maioria delas), as expressões populares, os locais onde a série se passa, tudo me trouxe uma sensação boa de pertencimento.

Imagem: Reprodução Globoplay

Pablo e Luisão é, acima de tudo, uma história de afeto. Não o afeto idealizado das grandes produções, mas aquele que sobrevive no improviso, na resenha de calçada, no cuidado disfarçado de piada. É uma série que entende a força dos vínculos que a gente constrói com as pessoas próximas, mesmo quando a vida não dá espaço pra grandes gestos. Tem um calor humano ali que é difícil de fingir. E talvez porque não seja fingido mesmo, pois tem muito da vivência do Paulo em cada cena.

O tom de comédia é só a casca. Dentro, há camadas muito sinceras sobre classe, afeto e sobrevivência emocional. A série acerta ao não transformar personagens pobres em caricaturas ou moralistas. Eles erram, acertam, zoam, se ajudam, assim como é na vida real. É uma série que não quer ensinar nada, mas acaba ensinando muito só por mostrar verdades.

Imagem: Reprodução Globoplay

A ambientação em Palmas, capital do Tocantins, traz algo raro de ver: uma cidade que carrega o jeitinho de interior. E essa escolha de cenário não é aleatória. Palmas é o coração geográfico do Brasil e, aqui, também vira o centro simbólico de um país que raramente se vê representado com tanta dignidade e familiaridade na TV.

Outro ponto forte é como a série respeita o tempo das relações. Nada é acelerado pra caber em fórmula. A amizade entre os personagens principais vai se mostrando nos detalhes: num silêncio constrangido, numa palavra atravessada, num favor feito sem pedir nada em troca. Isso tudo constrói um universo que a gente reconhece não porque viveu igual, mas porque já sentiu parecido.

Imagem: Reprodução Globoplay

Não poderia deixar de citar o elenco que é simplesmente maravilhoso: Luisão, ganhou vida em Aílton Graça, que traz uma presença calorosa e cheia de humor; Otávio Müller encarna Pablo com autenticidade e naturalidade; Dira Paes dá profundidade e sensibilidade à mãe Conceição; Yves Miguel interpreta o Paulo criança e João Pedro Martins como Neto, o irmãozinho, completam a ambientação familia. Além disso, participações especiais de peso adicionam brilho à produção: nomes como Lima Duarte e Miguel Falabella aparecem como figuras marcantes nas histórias.

A série é, antes de tudo, sobre amizade. Mas também é sobre o que a gente leva da vida quando ela vai passando sem pedir licença. O último episódio — e aqui eu prometo não dar spoiler — é um daqueles raros momentos em que uma obra te pega de jeito, sem aviso, e te faz chorar não de tristeza, mas de gratidão. Eu chorei lembrando das pessoas que ainda estão comigo. Meu marido chorou pensando no avô que ele perdeu. A mesma cena, dois corações diferentes, tocados de formas distintas. Isso diz muito sobre a potência dessa história.

Imagem: Reprodução Globoplay

Paulo Vieira constrói algo que vai além do riso. Ele entrega um presente para quem cresceu longe dos grandes centros, mas perto da poesia que existe na vida simples. E esse presente veio embrulhado com afeto, com cuidado e com memória.

Pablo e Luisão é mais do que uma série para mim. É um lembrete bonito de que a nossa história, contada do nosso jeito, também importa. E que bom que agora o Brasil inteiro pode assistir.
Todos os episódios já estão disponíveis no Globoplay e são transmitidos às segundas, na TV Globo, após a novela Vale tudo.

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