“Mai: Child of Ages” é uma experiência que não apenas conta uma história, mas faz você sentir que está vivendo dentro dela. Com uma história bem rica e uma trama bem construída. Desenvolvido pela equipe italiana Chubby Pixel e lançado em setembro de 2025, o jogo é uma mistura de ação, exploração e reflexão em uma narrativa que insiste em desafiar o próprio conceito de tempo.
Você joga como Mai, uma criança onde a vida dela está dividida entre passado, presente e futuro. cada época carrega sua própria beleza e tragédia. De animais fofinhos à monstros sombrios, o que parece apenas uma aventura bobinha se revela uma busca pela própria identidade, por lembranças esquecidas, doenças misteriosas, monstros fofinhos ou assustadores e por respostas sobre o que restou do mundo após uma antiga guerra.
Desde os primeiros minutos, a sensação é de estar caminhando entre ecos: as ruínas do futuro murmuram histórias de um passado que ainda pulsa, e cada passo de Mai parece tocar as fronteiras da memória.

A História e a Atmosfera
A força de “Mai: Child of Ages” está na forma como a narrativa da história se constrói. É sem pressa, com bastante apelo às emoções. É uma narrativa que fala sobre crescer, perder e aprender a seguir adiante. Mai não enfrenta apenas inimigos, mas também as próprias sombras (em formas reais) e dúvidas.
Cada ambiente trás consigo detalhes que deixam a história bem viva, trazendo consigo detalhes que contam histórias silenciosas: um brinquedo esquecido num canto, cartas soltas que contam cada qual uma história, uma árvore que insiste em florescer sobre o concreto, uma melodia distante que toca as vezes, é um trama onde tudo acontece de surpresa.
Algumas passagens e cenários de “Mai: Child of Ages” são realmente marcantes. Para mim, uma delas é quando o jogo fica completamente silencioso, deixando apenas o som do vento e o brilho do sol refletido em um lago antigo. Essa cena me lembrou bastante os momentos mais tranquilos de jogos como Zelda, com uma atmosfera de contemplação do ambiente e cenário incríveis.
É um jogo que transmite muito bem a sensação de que os criadores queriam envolver o jogador na história de uma forma bem profunda. Além disso, há trechos em que a música e o cenário se combinam de uma maneira tão harmoniosa que parece até que o próprio mundo está tentando se comunicar com você, unindo som, imagem e sentimento de uma forma muito especial.

Jogabilidade e Mecânicas
A essência do jogo está na habilidade de viajar entre diferentes épocas para resolver quebra-cabeças (não tão difíceis), explorar novos caminhos e reconstruir pedaços de lugares esquecidos. A forma como o mundo se transforma de uma era para outra é realmente encantadora e dá para sentir bem a diferença entre o passado e o futuro, além das dificuldades do tempo.
Ao mudar algo no passado, você acaba refletindo isso no futuro, ao congelar o tempo no futuro você consegue voltar isso ao passado. Um gesto simples pode mudar completamente um cenário. Essa mecânica faz você pensar nas suas estratégias de jogo, o que deixa tudo mais divertido.
As seções de plataforma são agradáveis e intuitivas. Mai se move com leveza e a sensação de progresso é natural, com habilidades que se ampliam conforme você amadurece junto dela.
A progressão segue o estilo “Metroidvania”: cada nova habilidade abre caminhos antes inacessíveis, incentivando a curiosidade e o retorno a lugares já visitados, que mudaram junto com a evolução da personagem.

Pontos fortes
O uso do tempo como elemento de jogabilidade junto da narrativa é realizado de forma brilhante. Tudo, desde o visual, as mecânicas e a trilha sonora gira em torno dessa ideia de eras sobrepostas, de memórias que se desdobram em um mundo atingido por guerras, devastação do tempo e de uma corrupção e tudo fica bem claro na transição entre as eras.
O estilo artístico é encantador, com um toque quase pictórico. As cores e luzes mudam conforme o humor da cena, e a trilha sonora é um espetáculo à parte: delicada e introspectiva, agitada quando tem que ser. Foi muito bem acertado e pensado as escolhas de sons e músicas para ambientação do jogo.
Mai é uma protagonista que cativa sem precisar falar muito. Sua presença é humana, vulnerável, e o jogador sente que está crescendo junto com ela.

Pontos fracos
O combate, embora funcional, carece de profundidade. Há momentos em que parece existir apenas para preencher espaço entre os trechos mais contemplativos.
A engine sofre um pouco no Switch. Há uma considerável queda de frames em transições de tempo e pequenos engasgos durante o carregamento de áreas maiores. O tempo de transição “entre eras” é um pouco lento e deixa um pouco frustrante em alguns momentos.
A ausência de um mapa ou de indicações claras também pode frustrar quem prefere uma progressão mais linear.
Por ser um jogo mais voltado para o público infantil essa questão não me pegou muito mas os padrões de movimento e de ataque dos inimigos é bem previsível e nada desafiador, com hitboxes meio desalinhadas, com ataques que atravessam os inimigos sem dar dano quando claramente eram para funcionar. Isso quebra o ritmo e fluidez de combate, mas nada que quebre o jogo.
E, por se tratar de um jogo independente, há pequenas falhas técnicas: quedas de desempenho, texturas irregulares e animações que poderiam ser mais polidas.
Mas nada disso destrói a experiência. Pelo contrário é um jogo que parece pintado à mão, deixando o ambiente meio artesanal no jogo.

Impressão Final
Mai, Child of Ages é um ótimo jogo para quem gosta de enigmas e puzzles.
Para quem joga não só com os dedos, mas gosta de pensar ao jogar.
Jogar “Mai: Child of Ages” é quase como folhear um diário perdido. Cada página traz uma lembrança, uma dor, uma descoberta. Não é um jogo competitivo que é sobre sobre vencer, mas sobre compreender uma história.
Poucos jogos conseguem transmitir com tanta delicadeza a passagem do tempo e o impacto das escolhas humanas no ambiente. Sim, há falhas, mas há também bastante história a ser descoberta. E é esse equilíbrio entre eras passado e futuro que faz de “Mai: Child of Ages” algo especial.
Não é um jogo para todos, certamente para crianças (meu filho amou), mas é um daqueles que diverte e marca com uma história bem contada a quem gosta desse tipo de jogo. Com algumas melhorias das limitações técnicas e de jogabilidade seria uma obra bem mais apreciada.

Nota: 3/5 chapéus
Se você pudesse visitar um momento do passado ou futuro, qual seria? Conta aqui nos comentários!

